Como me tornei Software Engineer e Product Designer na maior cervejaria do planeta

Como me tornei Software Engineer e Product Designer na maior cervejaria do planeta

Quero dividir um pouco de minha trajetória e experiência de como fiz para me inserir na tecnologia e trabalhar em uma das maiores empresas do mundo.

Me chamo Úrsula Ariel (isso mesmo, a bruxa do mar e a princesa sereia, risos), tenho 35 anos de idade, moro na cidade de Macapá-AP e sou mulher transgênero.

Não é novidade que pessoas trans passam por dificuldades extremas em nossa sociedade. Não foi diferente comigo! Para me manter, fazia diárias de limpeza em residências e geralmente eram a pedido de amigos próximos que acompanharam minha situação.

Arrumar um emprego digno sendo uma pessoa trans, não é tarefa simples! A maior parte das empresas não nos querem representando-os e, por vezes, praticam atos preconceituosos e discriminatórios no processo de seleção.


Foi então que decidi olhar para fora de minha cidade, usando a internet como extensão de minhas pernas e braços, já que não possuía recursos financeiros para bancar uma viagem e tentar empregabilidade fora de minha cidade natal.

Uma amiga havia me lembrado do meu background de conhecimentos sobre tecnologia, já que eu por vezes consertava equipamentos como desktop e laptop, além da oportunidade de fazer algumas aulas de programação e web design no passado. Prontamente, busquei por cursos para que eu pudesse aprender a programar em alguma tecnologia mais atualizada e ao mesmo tempo, buscando empresas que estivessem contratando na área.

Imaginei como seria bom se eu pudesse ter uma oportunidade  e o quanto que eu estava disposta a aprender algo novo e desafiador.

Se serve como dica, ter curiosidade e vontade pode levar qualquer pessoa para onde ela precisa estar. Não demorou muito para o Google me entregar várias informações sobre o que estava buscando. Este foi o primeiro desafio: ‘’como uma pessoa que não sabe nada e nem por onde começar, vai filtrar a informação necessária?’’, pensei.

Decidi buscar por Web Design, pois imaginava que poderia haver programação e criação de páginas web, já que estava totalmente desatualizada de tudo. Felizmente foi suficiente! Cursos sobre Frontend apareciam e um alvoroço sobre isso estava em alta, fazendo link com oportunidades de trabalho em várias empresas de tecnologia.

Nem passava pela minha cabeça que haviam tantos processos tecnológicos por trás de empresas que vendem produtos como cervejas, laticínios, roupas entre outros. Minha mente estava tão condicionada a uma metodologia de trabalho braçal, que é tradição em minha cidade bem como em outras, que sequer conseguia acreditar que eu poderia fazer algo tão ‘’diferente’’ e em uma empresa que vende algo físico. Sempre imaginava que era composta apenas de setores de venda, atendimento e administração.

O choque de realidade estava acontecendo. E em meio a toda essa informação comecei a filtrar para achar uma forma de estudar, me preparar e claro, gratuitamente. Fui pro YouTube, assisti a anúncios de profissionais vendendo seus cursos, escolas de preparação e outras, mas uma me chamou atenção! ‘’Bolsas integrais para pessoas trans - aprender a programa’’. Meus olhos brilharam ao ler o chamado!

A PrograMaria

PrograMaria, Startup focada em levar mais diversidade de gênero para a tecnologia, oferecer bolsas de estudos, cursos e eventos, especialmente para mulheres aprenderem a programar. PrograMaria têm apoio das maiores empresas de tecnologia do mundo, vale a pena mencionar.

Prontamente, me inscrevi para o processo seletivo de bolsas, tratei de fazer o teste e gabaritei! O teste é bem simples e ensina a base sobre tecnologia em geral, as mulheres incríveis, responsáveis pelas tecnologias existem no mundo, como a famosa Ada Lovelace e curiosidades mais.

Curiosa sobre quando a data de apuração das pessoas selecionadas sairia, entrei em contato com a Startup e fui atendida nada menos que pela CEO Iana Chan, que trazia boas notícias dando um breve spoiler do que viria.

A lista de aprovados saiu, e lá estava, meu nome! Dei pulos de alegria e minha mente só pensava no que me aguardava e o quanto o futuro poderia ser belo. Devorei o curso em apenas algumas semanas, e aprendi a base fundamental do Front-end com maestria, graças à didática simples das meninas da PrograMaria no curso Eu Progr{amo}.

Em outras palavras, como dica para vocês, busquem ajuda em programas de apoio a estudos na área, existem vários e para cada comunidade diversa, sempre há pessoas incríveis dispostas a ajudar com iniciativas maravilhosas.

Ao terminar o curso, ouvi falar muito sobre uma área que tenha total sinergia com o front-end, o UX/ UI. Pesquisei bastante sobre e me encontrei ainda mais pelas possibilidades de ter uma carreira mais abrangente e com mais qualificações. Foi quando entre as pesquisas, vi o anúncio de uma instituição de ensino online que poderia ensinar o curso de Product Design, uma das profissões da área de UX/UI.

Gama Academy e Revelo Up

Fiquei muito entusiasmada para saber mais detalhes e para a minha surpresa, havia uma modalidade de pagamento que se chamava ISA, que tem a premissa do Sucesso compartilhado. Basicamente, eu poderia fazer o curso e pagar por ele somente quando eu conseguisse um trabalho e apenas.

Através da Gama Academy em parceria com a Revelo Up, responsável por essa possibilidade de financiar o curso, após ter conseguido passar no processo seletivo para a modalidade ISA, era apenas questão de tempo até começar, porém, meu computador que era uma doação de uma amiga querida, havia parado de funcionar, sem possibilidades de consertos, me perguntei como eu faria o curso.

Felizmente, o pessoal de gente e gestão da Gama Academy, conseguiram adiar o inicio do curso para a próxima turma, para que eu não perdesse a vaga, mas ainda sim, não foi suficiente e já estava vendo que teria de abrir mão dos meus avanços, foi quando novamente, duas pessoas de dentro da Gama Academy, se sensibilizaram com a situação, Ana Luiza e Henrique Borges, movimentaram uma pequena campanha para me emprestarem um notebook para poder estudar.

Mal pude acreditar que teria a chance mais uma vez, de continuar trilhando o caminho que estava crente que mudaria o rumo de minha vida. E enquanto tudo isso acontecia, tinha me inscrito também para um processo seletivo da Ambev Tech.

Minha entrada no Hub de tecnologia da Ambev


Enquanto fazia o processo seletivo Start Tech da Ambev Tech, que na edição em questão, focava principalmente em mulheres e pessoas pretas/ pardas ao qual me incluo, além de ser trans. Foram mais de 42 mil inscritos e tinha como objetivo contratar e capacitar pessoas do básico de conhecimento em Frontend e QA (Quality Assurance). Foram ofertadas 40 vagas, onde tive a oportunidade de conseguir uma e começar minha primeira oportunidade de trabalho real como frontend.

Enquanto avançava nas etapas, ao qual estava fazendo pelo smartphone muito debilitado, quase parando de funcionar. Inclusive, recebi ajuda para poder gravar direitinho meu vídeo de apresentação, graças às meninas da Match Box, empresa terceira contratada para realizar as primeiras fases do processo seletivo, pude entregar meus vídeos picadinhos (pois o smartphone só gravava pequenos trechos) e elas juntaram tudo e enviaram para que eu pudesse ter meu vídeo válido para a etapa inicial.

Novamente, é muito importante pedir ajuda quando necessário, mas, ainda mais importante, são pessoas incríveis no lugar certo que podem ajudar.

Fui convidada pela CEO da PrograMaria, para ser persona de uma entrevista para a Intel, um pouco depois de ter terminado o curso Eu Progr{amo} e em meio a tudo isso acontecendo ao mesmo tempo. Falei sobre o mercado de trabalho em tecnologia para pessoas trans, que foi publicado pela IT Forum (https://itforum.com.br/noticias/no-dia-do-orgulho-lgbtqia-onde-estao-as-pessoas-trans-na-ti/). Essa entrevista virou o case que apresentei em uma das etapas do processo seletivo, do Start Tech, e possibilitou avançar nas etapas que inclusive foi possível, pois o notebook que a Ana e Henrique, em nome da Gama Academy, haviam enviando, chegou a tempo.

Tudo se conectou de uma maneira espantosa e eu não queria desperdiçar nenhuma chance! Sempre houve dificuldade, mas onde havia, também estavam pessoas incríveis, me apoiando como podiam, para que eu conseguisse seguir em frente, gratidão eterna!

O curso da Gama Academy havia começado e prontamente eu estava lá para aprender e conhecer muitas pessoas! Network foi a primeira lição, inclusive, ensinada na PrograMaria. Conhecer e se conectar com pessoas com vontade real e de verdade, é essencial para conseguir alcançar alguns objetivos, pode você pode pedir ajuda e conhecimento destas pessoas.

Em meio ao curso de Product Design, veio a tão esperada resposta do processo seletivo do Start Tech. Aprovada! Saltei de alegria e emoção em saber que seria uma futura Software Engineer. Enfim eu teria como me capacitar, crescer, aprender, me prover.Ter um lugar meu para chamar de lar, provido de meu esforço e dedicação. Lágrimas sucederam a alegria e lembrei que todo momento de dor em minha vida, teria, enfim, alívio!

Transição de Carreira

Quando falo de Network e conexões reais com outras pessoas e onde podem levar você, é muito sério! Essa transição de carreira foi possível, pois uma das coordenadoras/mentoras do curso da Gama Academy, era interna da Ambev e do time de Design. Nos conhecemos por acaso e ela pode me conectar com o Head de Design da Ambev  para que ele ficasse ciente de que eu estava me capacitando.

Quando completei 8 meses de Ambev Tech e já formada no curso de Product Design, graças a Gama Academy e Revelo Up, tive a oportunidade de fazer uma transição de carreira de Software Engineer para Product Design, ainda dentro da Ambev Tech, onde estou até então, trabalhando firme, aprendendo, me desenvolvendo e abraçando sempre novos desafios para chegar ainda mais alto.

A tecnologia muda o tempo inteiro, é preciso estudar e se empenhar bastante para que consiga dar o melhor de si e criar soluções incríveis e impactantes para o mundo.


Para finalizar, deixo minha trajetória como exemplo e que possam se inspirar a conquistarem seu lugar ao sol também na tecnologia. Façam conexões reais e verdadeiras, estudem e se capacitem sempre (Lifelong Learning) e nunca exite em pedir ajuda. Em breve retorno com mais dicas voltadas para programação e design.

Até breve!

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